O setor da construção civil apresenta um dos ambientes mais complexos quando se trata de cadeia de suprimentos. Isso porque há uma gama de fornecedores de materiais com cada vez mais opções de produtos, mão de obra, serviços, tecnologias, equipamentos e ferramentas, além das interfaces com órgãos públicos e legislações ambientais.
Trabalhando há quase dez anos especificamente com esses projetos noto que existe uma dificuldade dos profissionais da área em orquestrar a cadeia de suprimentos, entender suas dinâmicas, mitigar riscos e aproveitar vantagens estratégicas que ela fornece de tempos em tempos. Tem sido uma dor constante da maior parte dos clientes o fato da cadeia ser muito sensível a diversos fenômenos que podem comprometer fluxos de materiais, informações e serviços, com rompimentos parciais ou até totais nesses fluxos. O resultado disso é, naturalmente, um impacto negativo no desempenho geral das organizações, o que envolve não apenas os prejuízos econômicos, como prazos, custos e qualidade, mas também as desvantagens sociais e ambientais
Esses fenômenos podem ser considerados como riscos da organização, dos quais conseguimos ter alguma ideia de impacto e probabilidade. Há, no entanto, uma série de incertezas, ou seja, eventos que não conseguimos prever, mas que nem por isso podem ser ignorados. O diferencial nesse processo é projetar as operações e estratégias para não somente mitigar ou eliminar eventos causados por esses riscos e incertezas, mas aproveitar e criar oportunidades de negócio que podem surgir desses fenômenos.
O estudo da resiliência na cadeia de suprimentos tem justamente esse objetivo: entender como a gestão pode atuar para conter ou tirar proveito de situações adversas. No começo, o estudo da resiliência na cadeia de suprimentos era direcionado às catástrofes e grandes crises em cadeias globais, como guerras, pandemias e terremotos.
Preços de commodities alterados por crises políticas internacionais, greve no setor de transportes são parte dessas crises que temos visto atualmente, mas quantas vezes você já passou por distratos nos serviços, parada no fornecimento de material por falta de capacidade nas entregas, ou falta de disponibilidade de equipamentos? Para além das grandes catástrofes, o setor da construção civil está exposto frequentemente a interrupções por razões mais mundanas, com impactos bastante significativos.
Essa interrupção na cadeia de suprimentos têm sido a principal dor dos clientes com quem tenho atuado.
COM BASE NESTA EXPERIÊNCIA, LISTO QUATRO PONTOS QUE PODEM AJUDAR AS ORGANIZAÇÕES A MONTAR ESTRATÉGIAS PARA GANHAR RESILIÊNCIA:
Colaboração e confiança: Parcerias de longo prazo podem fornecer vantagens no desenvolvimento de produtos, processos e até mesmo atrelando serviços. Também é importante desenvolver esses relacionamentos para ter informações sobre eventuais problemas que possam comprometer entregas. Por exemplo: períodos de férias em fábricas podem impactar a capacidade. Se você tiver um relacionamento de confiança com seu comprador ou fornecedor, essa informação pode ser dada, o comprador pode ter tempo hábil para se preparar e isso não comprometer contratos ou o relacionamento em longo-prazo.
Flexibilidade: Aqui devemos levar em conta a adaptação de cenários e velocidade de resposta na tomada de decisão. Um exemplo operacional de flexibilidade que pode ser usado em obras é treinar um operador de uma determinada função para operar outra máquina, para o caso de eventual falta. No sentido mais estratégico, pode-se criar ambientes de testes e protótipos para novos produtos que podem vir a ser utilizados.
Redundância: Podemos criar estoques de segurança e dimensionar as equipes com mais capacidade do que o projetado para a produção, considerando os custos ou opções de fornecedores para não criar alta dependência (principalmente quando a confiança é baixa). Aqui é importante ter cuidado para não criar estoques desnecessários. No Lean, o estoque é um dos principais pontos de desperdício por interromper o fluxo produtivo e ser uma barreira para identificar problemas de qualidade. Um bom sistema kanban pode ajudar a dimensionar esses estoques e puxar o fluxo de produção.
Visibilidade e transparência: A tecnologia pode desempenhar um papel importante no que diz respeito à visibilidade, ou seja, conseguir visualizar informações relevantes na cadeia de suprimentos que possam indicar possíveis riscos ou oportunidades. O mercado conta com diversos softwares para isso, mas principalmente voltados para o mapeamento de preços. Antes de qualquer coisa, devemos entender que o bom uso da tecnologia vem seguido de desenvolvimento de competências internas nas organizações e entendimento do processo. É só assim que que conseguimos extrair o máximo de benefício dos sistemas de informação. Desta forma, a visibilidade na cadeia de suprimentos vinculada à colaboração e confiança pode trazer vantagens estratégicas interessantes.
O sistema Lean gera o ambiente adequado para aproveitarmos as estratégias de resiliência na cadeia de suprimentos.
Se tiver curiosidade de como utilizar essas estratégias de maneira eficiente com uma cultura Lean entre em contato com a Climb!
Autor: Fernando Pereira - Consultor Climb
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